O rio

O rio

segunda-feira, fevereiro 13, 2012

Escrito de memória



Formado em direito e solidão,

às escuras te busco enquanto a chuva brilha.

É verdade que olhas, é verdade que dizes.

Que todos temos medo e água pura.




A que deuses te devo, se te devo,

que espanto é este, se há razão pra ele?

Como te busco, então, se estás aqui,

ou, se não estás, por te quero tida?

Quais olhos e qual noite?

Aquela

em que estiveste por me dizeres o nome.




Não sei, amor, sequer, se te consinto

ou se te inventas, brilhas, adormeces

nas palavras sem carne em que te minto

a verdade intemida em que me esqueces.




Não sei, amor, se as lavas do vulcão

nos lavam, veras, ou se trocam tintas

dos olhos ao cabelo ou coração

de tudo e de ti mesma. Não que sintas




outra coisa de mais que nos feneça;

mas só não sei, amor, se tu não sabes

que sei de certo a malha que nos teça,




o vento que nos leves ou nos traves,

a mão que te nos dê ou te nos peça,

o princípio de sol que nos acabes.




Pedro Tamen (n. 1934)

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