O rio

O rio

domingo, março 15, 2015

É loucura? E depois?

As estranhas coincidências de a colocarem no mesmo lugar que ele, ainda que por instantes, deixavam-na irritada. Parecia o jogo eterno de esconde-esconde. Ela chegava, ele partia. Entre vigias e reencontros, andava a pairar, mas com uma leveza estonteante e nada bela... é ou não é, passa ou não passa, fica ou não fica... a vida em tom cinzento não é bonita... Volta e meia as ganas de o esbofetear, arranhar e beijar deixavam-na quase à beira da loucura. 
Teimoso e inseguro, mantinha-se ao largo, à espera de um momento melhor que nunca parecia encaixar no tempo... e assim deitava a perder tudo, tudo... adiando uma vida inteira...

- Vens hoje? - a ansiedade tolhia-lhe a voz.
- Não sei...
- Como não sabes? O que te prende? - crispada e pronta a libertar a fúria que a definia e lhe dava aquele incontornável tom que o atraía.

- Ah... a vida prende... a vida, ó vida... 
...

- Pra que saibas - já irritada com tanta lentidão - pra que saibas, podes sempre deixar mensagem.. Comenta!!!! Pelo menos saberei que estás vivo, caramba!
E desligou, revoltada por não poder contar com uma reacção expectável, pelo menos uma vez na vida, da parte dele... 

(Texto escrito à margem do novo Acordo Ortográfico, que é bem tolo, por sinal).



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